A Carta

Ele acordou sem vontade de se levantar, lavou o rosto por costume, abriu o chuveiro e ficou olhando a água cair, se molhou, parou, olhou a água cair de novo, se molhou mais uma vez, pegou a toalha, foi pro quarto, abriu o guarda-roupa, fechou, tornou a abrir, pegou uma calça e uma camisa qualquer, calçou os tênis, olhou pela janela, ficou lá parado, pensando, saiu do quarto, foi pra cozinha, tomou um copo de leite, pegou as chaves, caminhou até a porta, lembrou de algo, voltou, pegou uma carta que estava na mesa, sentou-se, leu, baixou os olhos, releu a carta, sorriu, pôs a carta no bolso, olhou o relógio, caminhou novamente até a porta, abriu-a, olhou a rua, pôs a mão no bolso, olhou novamente o relógio, estava atrasado pro trabalho, saiu, passou pelo portão, virou a esquina, voltou, abriu a porta, ligou o rádio, pegou um cobertor, se sentou no sofá, tirou a carta do bolso, leu mais uma vez, lembrou da voz de quem escreveu, sonhou e lá ficou.