segunda-feira, outubro 20, 2008

Entre os dedos

É como agarrar areia com as mãos, ela escorre por seus dedos e você se desespera tentando parar aquilo e aperta mais a mão, mesmo assim a areia continua escapando, quanto mais você tenta, mais escapa, mais você enlouquece por não conseguir evitar, mais se decepciona com você e com todo o resto, no final só sobra um grão no meio da palma da mão, um grão que só te faz lembrar que ali tinha milhares de grãos, que você deixou escorrer pelos seus dedos sem nem saber por quê, sem conseguir impedir e você enlouquece e se entristece mais um pouco, se sente tentado a pegar a areia do chão, mas percebe que vai acabar perdendo o grão que ficou em uma das mãos, então usa a mão vazia e começa o martírio de novo por que só consegue pegar um pouco da areia e mesmo esse pouco começa inevitavelmente a deslizar por entre os dedos, só que dessa vez o vento começa a espalhar os grãos que caem para longe e você lembra que na outra mão ainda tem um pequeno grão e fecha a mão, mas todo o resto vai se perdendo sem que você encontre uma solução, ficando ali a olhar pro nada, com uma mão fechada, outra estendida vazia, um peito apertado e água nos olhos por causa da areia, mas sem saber se o vento a jogou nos seus olhos, ou se é porque o vento soprou-a para um lugar distante e sem saber também, se quando você voltar a juntar os grãos eles não escaparão de novo por entre seus dedos.

Ao som de:

“Everybody Needs Somebody To Love” – The Blues Brothers Band

2 comentários:

  1. Ai, Dark.
    Meu deu um aperto no coração esse texto.
    Achei tão bonito...
    Beijo!

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  2. O grão que ficou na mão não voará nunca.

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