terça-feira, abril 03, 2007

Pactos e escolhas - Final

Como fedem, apesar dos anos ainda não me acostumei com o cheiro que essas criaturas exalam cada vez que as devolvo ao seu dono/carcereiro/carrasco, os gritos ficam ressoando, pelos becos, pela minha mente, por horas sem fim, depois se transformam em ameaças, maldições, risadas até que finalmente cessam, como acontece agora, meu estômago doí, faz dias que não como, tudo porque essa criatura escamosa, nojenta, que se desfaz aos meus pés conseguiu me surprender, me emparedou vivo, me estudou, cortou, feriu, queimou, dissecou e mesmo assim não descobriu um meio de me matar, tudo que ela fazia era me deixar mais furioso, meu corpo se curava mais rápido, mais forte, sussurrei, ele se aproximou, mais perto, mais perto, seu pescoço entre meus dente, aperto, ele grita, me bate, não solto, meu braço se liberta, seguro ele perto, um puxão, livre da parede, outro puxão um corpo separado da cabeça, carne putrefada em minha boca, caçada terminada.

Fome, preciso comer, uma lanchonete, a garçonete pega o pedido, ela tem um cheiro diferente, gostoso, peço 03 cheeseburgueres, batatas fritas, uma garrafa grande de refrigerante, espero, a garota me olha, sorri, alguém a chama, faz um pedido, um cheiro estranho, olho pro lado, cabelos vermelhos, sorriso cínico, um cheeseburguer e um milkshake de chocolate lhe é servido, ele morde o sanduíche, rio, quem diria que ele toma milkshake, me parabeniza, elogia, quero estrangular, arrancar seu coração com minha mão, ele sorri, fala que eu posso tentar, mas que a morte dos outros a nossa volta será minha responsabilidade, o mando pro inferno, ri, chega minha comida, a garçonete continua me olhando, junto com a conta um bilhete, meu "chefe" dá uma risadinha cínica, diz que tem mais serviço, porém posso descansar um pouco, penso em xingá-lo, ele se levanta, termina o milkshake, sai cantarolando "eu não gosto de padre, eu não gosto de madre, eu não gosto de frei...".

Termino de comer, olho pro bilhete, "saio em dez minutos", na porta da lanchonete ela me olha, grandes olhos verdes, quase transparentes, seu cheiro é doce, inebriante, cabelos dourados, ela sorri, tremo, algo estranho me arrepia, vou em sua direção, saímos juntos, ela não diz uma palavra, se entrelaça no meu braço, me acompanha calada, chegamos no apartamento dela, me convida, entro, continuo com uma sensação estranha, o cheiro dela me excita, exala sexo, estou sozinho a muito tempo, relaxo, suas mão tiram minha camiseta, a agarro, beijo quente, as línguas se movimentam freneticamente, minhas mãos em suas coxas, em sua bunda, as roupas voam, ela me empurra, sobe sobre mim, cavalga num ritmo alucinante, puxo-a pelos cabelos, sugo seus seios, me perco em sua boca, me coloco de pé, ergo-a sem desprender nossos corpos, olhos fechados, uma pontada nas costas, minhas costas queimam, meu passado brota na mente, nublando os pensamentos, me concentro, ela cheira a demônio, é isso, abro os olhos, um súcubo, ela é um maldito súcubo.

Arremesso-a contra a parede, em suas mão um punhal, sujo com meu sangue, o corte não fecha impossível, ela ri, não, gargalha de satisfação, mostra a arma, diz que foi forjada com a habilidade de eliminar qualquer ser não natural, qualquer entidade maligna, ela avança, um corte de raspão no braço, queima como fogo, dor, difícil concentrar, ela ataca novamente, a lâmina atravessa minha mão, me livro da atacante, minha mão queima, uma dor lancinante, percorre todo o braço, minha adversária se move, sinuosa, ataca, o punhal ainda atravessado, arranco, é como se arrancasse meu próprio braço, atravesso seu crânio com o metal, do queixo ao topo da beça, a lâmina do punhal brilha, ela grita, se contorce, se desfaz em meio a chamas, me amaldiçoa, mas também me abençoa, pois a arma fica, uma arma capaz de eliminar o mal ou seres supernaturais, minhas pernas arqueiam, eu caio, nu, cansado, sangrando, rindo, o punhal em minhas mãos, um rosto de cabelos vermelhos no reflexo da janela, dessa vez ele não ri, sabe que agora eu tenho um ás na manga, mas primeiro a missão, a caçada aos fugitivos vai continuar e depois, depois será a vez do carcereiro e da minha vingança.

FIM(pelo menos por enquanto).


(Essa história é inspirada no personagem dos quadrinhos o Motoqueiro Fantasma que surgiu em 1972 , criado por Roy Thomas, Gary Friedrich e Mike Ploog, na revista Marvel Spotlight #5.)

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