Voltando pra casa (ou Mora em São Paulo?, Azar o seu.)

Morar em São Paulo tem grandes vantagens, é uma metrópole que acolhe a todos, com cinemas, teatros, parques, museus, bairros de arquiteturas magníficas, opções mil de trabalho e lazer, mas morar em São Paulo também tem desvantagens, a pior é se locomover nessa cidade monstro e depois de passar muita "reiva" na quinta e sexta passada, resolvi dar vazão a um pouco dela aqui.

Pra começar, quinta-feira, 14/06/07, o único dia que eu precisava estar antes das 8 no trabalho, pois pra minha sorte às 7 da matina dou com a cara no portão fechado do Metrô Jd. São Paulo e um cartazinho sem-vergonha dizendo: "GREVE", toca andar um bom pedaço pra achar um ônibus que fosse pro centro, mais precisamente Praça do Correio, dei sorte que assim que cheguei no ponto vinha um, mais sorte ainda porque só eu e uma garota resolvemos pegá-lo, porque eram exatamente só duas pessoas que cabiam nele e ainda se apertando, encoxando, cutucando e outros ando que você possa imaginar.

Já certo de que não chegaria no horário, só me restou resignar e seguir viagem, que durou duas horas e meia, de pé, e mesmo assim porque logo depois da Estação Luz eu resolvi descer e terminar o percurso a pé, pois o ônibus tinha que dar uma volta pra chegar no terminal, enquanto a pé era só ir em linha reta uns 3 ou 4 quarteirões, desci do ônibus, as pernas tremiam, andava parecia um pato, os joelhos latejavam, mas cheguei no prédio cravado no Vale do Anhangabaú às vinte pras dez da manhã, durante o dia notícias de que o metrô voltaria a funcionar pipocavam, vai voltar às 11, não, é ao meio dia, não, é a uma, é às duas, eu virei pra moça que trabalha comigo e já avisei, se o Metrô não voltar antes das 15 horas, a gente fecha tudo e vai embora, mas ele realmente voltou as duas da tarde, que beleza, ir pra casa sossegado, acabou a greve, o fim de semana chegou, amanhã é sexta, beleza.

Sexta-feira, 15/06/07, 18:10, sala das secretárias do assessores:

- Você viu o Metrô tá parado.

- Como assim, parado? Tá em greve de novo?

- Não, parece que deu um problema de energia elétrica na Sé e tá tudo parado.

- Será que volta a que horas?

- Não sei.

- Vou ver na internet se tem alguma notícia.

...

- A Assessoria do Metrô disse que os trens estão com velocidade reduzida e sugerem que os usuário utilizem após às 19, como a gente só sai depois das 19 tá tranquilo.

- É, acho que sim.

...

19:10, Metrô São Bento, entrada do Vale do Anhangabaú, portões trancados, nenhum funcionário pra dar informações, nada, várias pessoas paradas na frente do portão, sem saber o que fazer, buscando resposta, até que surge, não se sabe de onde, a informação de que as estações Luz, São Bento, Sé e Liberdade estão fechadas, para ir pra Zona Norte, melhor pegar o trem na estação Tiradentes que está funcionando.

Começa a marcha pra casa, dezenas de pessoas andando pelo Centro da cidade, os bandidos devem agradecer a Prefeitura de São Paulo pela facilitação de seu trabalho, pois, com a nova iluminação amarela, mais econômica, você anda na penumbra o tempo inteiro, não sabe se está pisando em pedra, em bosta, em rato, sombra, até chegar perto demais, sombras e vultos é o que não faltam, parabéns aos Governantes que ajudam a aumentar o medo das pessoas ao andar a pé, a noite nas ruas dessa metrópole.

Durante o caminho, olha só, tá rolando uma desocupação da Biblioteca Prestes Maia, ocupada por sem-tetos, que legal a calçada tá interditada, com os pertences das pessoas, alguém diz que vão mandá-los pra Zona Leste, melhor apressar o passo antes que me enfiem numa Kombi achando que eu tô no meio da turma de invasores por causa da escuridão dessa avenida. Caramba, quanta gente na mesma situação, olha só o pessoal que saiu do trem da CPTM na Luz, tão indo a pé pra Liberdade, tô quase chegando na Tiradentes, mais um pouquinho e vou pra casa.

Metrô Tiradentes, entrada de frente pra Fatec, portão entreaberto, gente saindo, mas ninguém entrando, um "Urubu" do Metrô parado:

- Ei, onde vai?

- Pegar o metrô pro tucuruvi.

- Não tá funcionando.

- Como não tá? Acabara de dizer na São Bento que era pra vir pra cá.

- Desculpa, mas não tá indo trem pra lá não.

- Putz, e agora? - uma pergunta retórica mais pra você do que pra quem está perto, mas que é incrivelmente respondida.

- Do outro lado da Avenida Tiradentes passa ônibus pra lá, atravessa e pega um.

Você olha pra cara da figura e olha pro outro lado da Avenida, completamente parado e se pergunta se o "urubu" falou sério, se tirou uma com a sua cara, ou se ele acha que mora em Utopialândia e não em São Paula, a cidade engarrafada.

-Cidade do caralho!

Bem só lhe restam duas alternativas: seguir o "belo" conselho ou seguir a pé, escolho a segunda hipótese, vou andando se quando chegar na Armênia reparar que o metrô tá funcionado, pego lá e vou pra casa, se não estiver, vou até o Tietê e pego um busão qualquer que vá ou pro Jd SãoPaulo, ou que passe pela av. Nova Cantareira. Metrô Armênia, nennhum movimento, aliás nem luz acesa na estação tem, bem vamos ao Tietê, ainda bem que a noite tá gostosa de caminhar e que a mochila tá praticamente vazia, em frente ao Clube Espéria uma pontada na sola do pé esquerdo, uma bolha, que legal e a meia rasgou também, aliás a meia dos dois pés, mas mais um pouco e eu chego na Cruzeiro do Sul. Cheguei, tá parada, não acredito, olha a quantidade de gente no ponto quase a mesma de quem tá andando, bem já vim até aqui, quer saber de uma coisa vou pra casa a pé mesmo, ainda bem que minha estagiária me deu um chiclete, vou mascando ele e descontando a raiva.

20:15, esquina da Av. Dr. Zuquim com a Leite de Moraes, uma padaria, vou comprar uma água, opa um orelhão deixa avisar em casa que já estou em Santana, ninguém atende, deixa ligar no celular, já devem estar na minha tia pro aniversário dela:

-Mãe? é O Gui, tô em Santana já.

-Já tô na sua tia, seu tio pegou a gente, como vc foi pra aí de ônibus?

- Não a pé mesmo.

- A pé!?

- É, agora vou pra casa, depois passo aí.

- Tá bom, dá uma descansada antes.

- Tá.

Opa, que cheiro é esse, beleza um churrasqinho de gato, tô com uma fome, um espetinho faz favor, obrigado, bem continuemos a peregrinação, falta pouco agora, aí meu pé tá doendo pacas, os dois agora e ainda pisei numa pedra pontuda, ai, ai, caralho. Cheguei, finalmente, lar doce lar, que horas são? 20:45, nada mal, mais rápido que o ônibus de ontem, que fome, vontade de comer doce, um danoninho dos meninos, não deixa pra eles, opa olha o pote de io-io cream, cadê a colher, hummm bom, será que tem algo no forno? bisteca, bisteca com iô-iô cream, beleza.

21 horas, no banho, deixa ir logo pra minha tia, o fim de dia do diabo, maldito qual dos dois boatos que correram durante a caminhada será verdade, sabotagem dos grevistas ou suicidio, pô mas pra que pular no trilho do metrô, se afoga na privada, sei lá, qualquer coisa que não atrapalhe os outros, ainda bem que a Natália me deu um chiclete, opa o chiclete, putz engoli o chiclete com o churrasquinho, que porra, São Paulo vai toma no cú.

Não acredito que engoli o chiclete. HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA.