terça-feira, abril 14, 2009

Uma Noite Diferente

"Maldita consciência", é tudo que consigo pensar agora, devia estar em casa secando as duas garrafas de vinho tinto, terminando aquela meia pizza que sobrou de segunda e depois apagar no sofá vendo um filme qualquer, ou seja o meu habitual de quartas a noite, mas não, eu tinha que inventar de comprar as malditas garrafas na padoca mais movimentada do bairro, ao invés de comprar dois Natal no armazém do Lucão. Também tinha que fugir da minha comum cara fechado e resmungos, pra parar e cumprimentar aquela ex-colega de ginásio, que eu não vejo há mais de 10 anos, tudo porque ela virou uma tremenda gostosa de cabelhos castanhos claros, olhos escuros, um par de peitos deliciosos e as coxas mais bem torneadas que já, nessas horas é que eu acho que devia ter sido capado, assim não tava aqui parado sob um temporal, molhado até os ossos, na frente da única casa da rua mais deserta e escura desta maldita cidade, até os fantasmas devem ter medo de vir aqui.

Por que eu não ignorei quando ela me chamou:

- Oi, não tá lembrado de mim não é?

- Hã, er... oi, desculpa mas não sei quem é você. - Tentando disfarçar que tava olhando mais pros peitos do que pra cara da guria.

- Pô, sou a Bia, a gente estudava junto.

- Ah, lembrei, mas você tá muito gos..., diferente, muito diferente do que eu lembrava.

- Você continua com a mesma cara. Como vão as coisas?

- Tudo bem e com você? - Putz, mesma cara, continuo com cara de babaca, então, grrrrrr.

- Mais ou menos, alguns problemas.

- Que pena, mas olha eu tenho que ir.

- Ah, tudo bem, eu já vou pegar o ônibus pra casa também, ainda moro no mesmo lugar, sabia.

- Caramba e o que você veio fazer aqui? - Caralho essa guria é louca, no bairro dela nem bandido anda de ônibus a noite.

- Eu tava na casa do meu namorado.

- E porque ele não te leva em casa, aquela sua rua é perigosa pra caralho.

Bia fazendo cara de choro: - É que a gente teve uma briga, ele me xingou, me colocou pra fora da casa dele. - Ah não agora essa anta vai começar a chorar aqui no meio da rua.

- Olha não fica assim não, eu vou com você até sua casa, a gente vai conversando e você esquece isso.

- Brigada, chuinf.

Foi aí que me fudi, achei que já tinha passado essa fase de dar uma de cavaleiro andante, pelo visto li gibis de heróis além da conta. A viagem foi tranquila, ela riu, esqueceu o pastel do namorado por um tempo, mas foi só a gente chegar na frente da casa dela e pronto desabou um temporal desgraçado, o babaca do namorado tinha ido até lá e esperava ela no portão, mais bêbado que um gambá, queria "conversar", pois essa conversa já durava mais de uma hora, ninguém dava, nem descia e não minha consciência filha da puta não queria deixar a Bia com aquele pinguço. Ela deu um tapa na cara dele, pronto acho que agora acabou a conversa, ela tá pegando a chave e ele ficou parado na calçada com cara de ué, vou poder voltar pra casa.

- Sua cadela, piranha, desgraçada, eu vou acabar com a tua raça e com a desse teu amante viadinho. - Pronto, virei um amante viadinho, tudo que eu queria era estar em casa, mas agora tinha virado amante, pior viadinho, se bem que se eu era amante dela como ia ser viadinho, e ainda molhado e ameaçado. Quando olhei pra trás, o pseudo corno já tava vindo com a garrafa que tava no carro, não deu tempo de nada, só senti o impacto do vidro, na boca o gosto do que tinha dentro da garrafa bebida da boa:

- Desperdício de boa bebida. - falei, minha cabeça latejava, o bebum, mal se aguentava em pé e mesmo assim avançou pra cima dela, garrafada na cabeça eu até aceito, agora bater em mulher que está comigo não, estiquei o pé, o desinfeliz explodiu o queixo na calçada, tem gente que diz que brigar com bêbado não vale a pena, eu já sou da opinião que se quer briga, não tô nem aí se o adversário tá bêbado, sóbrio, homem, mulher, criança ou velho, quer briga vai ter briga.

Ele tentava xingar, mas a dor na boca só permitia uns grunhidos, aquela bagunça, a chuva apertando, a cabeça latejando, só queria sair dali, me deitar, mas o desgraçado agarrou minha perna, tentava me derrubar, só senti um vento passando do meu lado, quando vi o dito cujo tava estatelado na calçada, um vergão vermelho atravessando a cara do meu outro lado Bia segurava o que tinha sobrado do rodo que ela espatifara na cara do ex.

- Seu,seu, babaca, filho da puta. - Ela não parava de xingar o cara, minha cabeça girava, sentei na guia, nem me importava mais com a chuva, quando ela me convidou para entrar e me secar, enquanto esperava minha roupa secar ela me ofereceu uma cerva e gelo pra cabeça, começamos a conversar sobre o ocorrido, outras cervas vieram, não paravamos de gargalhar, a cabeça não sei se girava pela pancada ou pela bebida.

Beatriz parecia mais linda ainda, seu perfume era delicioso e o calor do seu corpo sentado ali do meu lado me deixava louco, não resistindo a beijei, ela correspondeu apesar ou devido a nossa bebedeira, queríamos mais, ela se deitou sobre mim, de repente tudo foi ficando escuro, escuro.

Quinta-feira 9 da matina, acordo com gosto de cabo de guarda-chuva na boca e uma dor de cabeça infernal, o corpo moído, os olhos se acostumando com a claridade, quando desperto totalmente vejo Bia, dormimos abraçados no sofá, nenhum dos dois teve força pra nada, ela acorda olha pra minha cara, entende o que aconteceu, gargalhamos mais ainda, depois de comer alguma coisa vou embora, mas com volta marcada pra mais tarde.

Na rua, sentado do lado do carro o ex dela, não resisto, passo por ele, que parece não ter forças pra se levantar e digo:

- Agora tú tem motivo pra ficar puto, seu corno. - Desço a rua às gargalhadas, até que não foi uma noite tão ruim



(Texto originalmente publicado no Além do óbvio e ululante que pulula mentes humanas)

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