quarta-feira, agosto 04, 2010

Uma cidade com pressa - Republicação

Eu moro em São Paulo desde que nasci, nisso se vão 28 anos e pra ser sincero eu odeio essa cidade, cada vez mais, a cada dia que passa, não adianta me dizer que é uma cidade rica, cheia de cinemas, parques, teatro, estádios de futebol e etc.

O cinema é caro, o teatro mais ainda, os parques não me interessam mesmo e os estádios de futebol menos ainda, o trânsito nessa cidade é insuportável você não pode sair em horário nenhum que após andar meio minuto já ta parado, outra se três pessoas cuspirem ao mesmo tempo na rua causa uma enchente de tamanho desproporcional e um caos absurdo.

Todo mundo nessa cidade tem pressa, tem pressa pra dormir, pra acordar, pressa pra ir trabalhar, pressa pra chegar, pra sair, pressa pra se divertir, aqui as pessoas tem pressa pra trepar, pra gozar, pra amar, pra comer, essa maldita cidade tem pressa até pra ter pressa, você não consegue ficar 15 segundos parado sem que alguém te apresse, buzine, mande sair da frente ou pergunte porque você ta ali sem fazer nada, que não pode parar e ficar olhando a paisagem pela janela do escritório.

O paulistano é gentil, aceita todas as nacionalidades e naturalidades, desde que eles não atrapalhem o seu dia-a-dia, as pessoas tem que se encaixar no ritmo da cidade, se não conseguir andar sempre a 100/hora é melhor ir embora, não adianta argumentar que está a 99,8/hora, tem que ser de cem pra cima de preferência.

A cidade é enorme consegue agrupar no mesmo bairro as maiores diferenças sociais e culturais, só que essa pressa toda faz com que cada um esteja preocupado com sua própria vida, ninguém quer saber se o vizinho é isso ou aquilo, se ele é um músico ou um doceiro de mão cheia, quer sim que ele não se meta na sua vida, que não incomode os seus hábitos e que de forma alguma atrapalhe o seu ir e vir com pressa.

Quem mora aqui tem tanta pressa que não pensa no que faz durante as eleições e depois cobra ainda mais rápido, soluções para um dia-a-dia de problemas que se arrastam por décadas, elegem um vereador que nunca morou aqui a não ser nos dois últimos anos antes da eleição pelo simples fato de ele ter sido um cantor famoso e pela sua fama de polêmico, elegem um campeão olímpico que viveu toda sua vida em Santos e não vou discutir se eles se saíram bem ou não, mas sim que logo depois disso o povo da cidade reclama que os vereadores não conhecem a cidade e como ela funciona, não conhecem sua alma.

Muita gente vem pra cá atrás dos seus sonhos de riqueza e melhora de vida, a maioria iludida por uma imagem antiga de que na cidade que não pára tudo vai ser melhor e quando aqui chegam são obrigados a encarar uma realidade cada vez mais dura e cruel; São Paulo pára, não de se movimentar, correr e trabalhar, mas parou de crescer, de se preocupar com o bem-estar de quem aqui mora, parou também de ter uma alma, para ter uma CPU, um HD, São Paulo parou de ser humana para ser uma máquina e é por isso que eu a odeio cada dia um pouco mais, afinal ninguém quer se relacionar com uma máquina fria, mas sim com um ser de alma e calor.

Pode ser que eu esteja muito mau-humorado, que esteja virando um jovem velho ranzinza, pode ser, mas hoje eu queria simplesmente poder parar, sentar na sorveteria e ver o dia correr devagar sem pressa, sem culpa e sem tristeza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário