terça-feira, abril 17, 2012

Coisas da vida - Republicação

Gabriel aceitou o convite, iria passar uns dias em um sítio de parentes, curtiria assim umas merecidas férias do corrido dia-a-dia. Foi durante essas férias que conheceu Dalila, ela era amiga de seus primos, Gabriel e Dalila se deram bem logo de cara, na verdade tinham um senso de humor parecido, provocavam-se o tempo inteiro, porém sempre como uma forma de dar risada, foi assim que conviveram durante 15 dias, porém no meio da turma percebera que alguém os olhava diferente, era Saulo.

Saulo e Dalila eram noivos a algum tempo, e ele também era amigo dos primos e do próprio Gabriel, apesar de boa gente Saulo tinha o pavio curto, juntando a isso o fato de beber, ou melhor de absorver, como uma verdadeira esponja, era alguém que na maioria das vezes causava confusão e embaraços para si e para os outros. Sabendo disso Gabriel não mexia muito com ele, as reações do rapaz ninguém podia prever e era melhor evitar brigas, tendo isso em mente ficou com o pé atrás quando percebeu os olhares do outro quando Dalila vinha brincar com ele, espantou-se mais ainda quando numa conversa boba teve a impressão que a garota lhe dava uma atenção diferente com o passar dos dias, afastou aquele pensamento da cabeça, afinal eles já estavam noivos há muito tempo e o casamento marcado para dali dois meses.

Mas por mais que tentasse, Gabriel ficara com a sensação que Dalila estava lhe dando bola e isso piorou quando pegou uma conversa dela com outras moças de que estava farta do comportamento infantil de Saulo e que queria acabar com o noivado, será que era ele Gabriel o culpado por isso? Não, não devia ser isso, provavelmente escutara mal, bem as férias tinham acabado e iria voltar naquele dia mesmo para casa, nada demais poderia acontecer.

Só que de volta a rotina do trabalho Gabriel se pegou pensando em Dalila, no sorriso, no olhar, depois de muito tempo ele se apaixonara de novo, mas ainda não conseguia acreditar nisso, resolveu ligar para Dalila e convidou-a para sair, ela aceitou, foram ao cinema e depois ficaram conversando horas sobre a vida, ela contava que tinha dúvidas sobre o casamento, talvez já não amasse o noivo tanto quanto antes, mas queria dar uma chance a eles, escutando isso Gabriel se retraiu por um instante, foi quando ela pegou em sua mão e disse que gostaria que Saulo fosse tão bem humorado e bonzinho como ele, o coração do rapaz disparou tinha a sensação de ver sua camiseta subir e descer no ritmo das batidas, queria beija-la ali mesmo, mas como ela mesmo disse era bonzinho demais pra isso, acabou aconselhando-a e se despediram em poucos dias se veriam no casamento e ela fazia questão de sua presença.

Aqueles dias até o casamento foram angustiantes, tentava abafar o que sentia por Dalila de todas as formas possíveis, bebeu tudo que podia tentando afogar o sentimento, dormiu com uma garota linda do trabalho por quem ele sempre tivera uma queda, mas nada apagava aquele sorriso de sua mente. No dia do casamento pensou em não ir, mas o telefone tocou cedo e era ela dizendo que não o perdoaria se não aparecesse, na igreja quando o noivo veio cumprimentá-lo Gabriel sentiu o cheiro de bebida, mal começou o dia e o sujeito já tinha toma umas cervejas.

Com a chegada do padre no altar todos se posicionaram, inicia-se a marcha nupcial, a noiva, linda como uma pintura, começa sua entrada, no meio do caminho entre ela e o altar, instigado por uma força que não compreendia, Gabriel se postou, disse que estava apaixonado por ela, pede que Dalila pense se realmente valeria a pena passar a vida com alguém a quem ela não tinha mais certeza de amar, do altar Saulo ameaça se manifestar, porém Gabriel com um olhar ameaçador manda que ele cale a boca e fique quieto no lugar, talvez tenha sido o susto ou a bebida, mas o rapaz fica estático sem conseguir concatenar uma idéia, um movimento sequer, enquanto isso todos esperam a resposta da moça, ela olhando nos olhos daquele moço maluco e bem humorado que conheceu diz:

- Eu não posso fazer isso com ele, eu queria, mas não posso. - diz com lágrimas nos olhos.

Meio que esperando essa resposta Gabriel sorri, a pega entre os braços e a beija, um beijo longo, suave, depois a soltando, começa a caminhar para a porta, mas antes, se vira e diz:

- Afinal, eu não sou tão bonzinho assim. - Sorri e parte.


(Texto originalmente publicado no Além do óbvio e ululante que pulula mentes humanas).

Nenhum comentário:

Postar um comentário