segunda-feira, maio 07, 2012

Falta Tempo - Republicação

Caramba, que preguiça ao acordar hoje, queria tanto ficar na cama, tava quentinha, o sono gostoso, mais gostoso ainda estava o sonho, sonhei com você essa noite, você tinha vindo me entregar uma carta, mas eu não conseguia ler o que tava escrito porque o objeto mudava de forma a toda hora, virava carta, depois um medalhão com uma foto sua, depois uma plaquinha de prata onde as únicas palavras gravadas que consegui ler foram: "diga ela... você alcança" - Assim mesmo, palavras sem muito sentido e olhava pra você e seu sorriso era tão bonito, tão aconchegante, não resisti e te beijei, foi nessa hora que fiquei na dúvida se tava sonhando, sua boca e seu cheiro pareciam tão reais, acordei com o gosto da sua boca na minha.

- "Acho que vou ligar pra ela, mas ainda tá muito cedo, perto da hora do almoço eu ligo, deixa eu ir trabalhar." - Pensei isso, fui tomar banho, café da manhã, simbora pro metrô e o gosto da sua boca continuava lá, no serviço um inferno, papel pra tudo que é lado, todo mundo querendo tudo ao mesmo tempo, desse jeito eu enlouqueço, droga já é hora do almoço, só vou poder ligar depois das três da tarde, justo hoje esse pessoal resolve trabalhar bando de..., calma, calma, tudo bem o dia começou ótimo, não vai ser isso que vai atrapalhar o meu humor.

Três da tarde, vou ligar, - "O que? Reunião agora? Não, agora não dá, espera um pouco, não dá pra esperar, tudo bem, tudo bem, já tô indo." Saco, desse jeito fica difícil, acho que agora só no final do expediente, hummm o gosto da boca dela ainda tá aqui que estranho. Catzo, sete da noite já, esse pessoal fala, fala e não desata o nó, bem vou ligar agora: - "Sua mensagem estará sendo encaminhada para a caixa postal." - Droga, eu quero falar com ela não com uma máquina, depois eu tento de novo, deixa eu ir embora antes que inventem mais serviço.

Na saída do trabalho lembrei que tinha que passar na casa de uma amiga para entregar um trabalho da faculdade, fiquei lá até às oito e meia, ainda bem que essa amiga mora perto de casa, vou à pé pra casa, acho que vou ligar daqui da rua mesmo, cadê o celular, aqui, ah putaquepariu, acabou a bateria, não faz mal eu ligo de casa.

- "Olha a bola!" - Quase levo uma bolada na testa. - "Ô garoto, toma cuidado aí".

- "Foi mal tio!" - Mais um pra me chamr de tio, tô ficando velho mesmo, bons tempos que eu jogava bola na rua até tarde.

- "Caralho, olha o carro, moleque!" - Puta, quase não dá tempo de empurrar o menino da frente do carro e o cara nem parou, só gente maluca nessa cidade, o guri tá bem, vou pra casa agora, ei o que é esse monte de gente de máscara branca na minha frente, sai da frente eu tenho que ir pra casa telefonar pra garota que eu amo.

Opa, que que esse pessoal tá fazendo com essas agulhas, seringas, luvas, ai como meu corpo doi, meu peito queima, o gosto do beijo dela na minha boca tá mais forte, que gostoso, porque tudo tá ficando escuro, seu sorriso, que beijo bom, gostoso, molhado.

- Droga mais rápido com isso, tragam o desfibrilador agora.
- Os batimentos dele pararam doutor.
- Afastem-se - bzzzt - nada, de novo, afastem-se - bzzzt, merda.

Hora do óbito 20:45.

(Texto originalmente publicado no Além do óbvio e ululante que pulula mentes humanas). 

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