quarta-feira, maio 09, 2012

Nunca esqueça de abastecer seu carro (ou Uma noite pra se esquecer) - Republicação

Minha garganta ainda está seca, dessa vez foi por pouco, muito pouco. Maldita hora que parei de fumar, precisava dumas tragadas agora, pelo menos achei essa garrafa de campari, agora onde estão os copos? Ah vai direto do gargalo mesmo. Ufa, agora sim, a cor tá voltando pro rosto, mais um pouco e eu tinha virado presunto, nem quero pensar nisso, mas preciso escrever senão vou enlouquecer.

Eu na mão daqueles malucos quase dancei, mas também, porra quem manda não por gasolina no carro e cismar de levar a mina em casa, ela que tivesse pegado o metrô, tá certo que eu não podia imaginar o que ia acontecer, mas que caralho ainda tenho que voltar pra pegar o carro, ah, só amanhã e ainda com uns dois ou três amigos pra fazer companhia.

Que merda, quando a gasosa acabou eu devia ter voltado e pedido pra dormir no sofá, não mas achei que não tava longe do metrô e a rua tava calma, claro que tava calma, todo mundo devia tá dentro das suas casas se mijando de medo. Conforme andava na rua senti que era seguido, algumas olhadas por cima dos ombros só mostravam sombras e vultos sem formas, como minha curiosidade é maior que meu bom senso, eu tinha que resolver virar de uma vez, devia era ter dado no pé mesmo, e pra minha sorte tinha que ter uma guria de cara mais pálida que roupa de médico, com batom e sombras negros e risinho cínico despencando no rosto, quando dei por mim já tava cercado por várias daquelas figuras, seus rostos com aquela alvura sob a luz parca da rua dava a impressão de serem mortos, mas tavam bem vivos.

E apesar dessa maquiagem aparentemente gótica, nada de roupas pretas, elas eram em sua maioria vermelhas ou laranjas, Tentei sair do meio do circúlo que me fora impingido, mas eles fecharam a passagem, de repente dois moleques do tamanho de armários me pegaram pelos braço e todos resmungavam ou rezavam ou louvavam terem finalmente encontrado o noivo de Aktiba, que pra minha infelicidade era eu pelo visto, e pra uma infelicida maior a tal Aktiba parecia uma criatura saida de um dos circulos do Inferno de Dante, olhos sem expressão, sorriso de escárnio e maldoso, um puta de um corpo, se bem que meus olhos ficaram mais colados na espada curta que ela trazia em sua mão esquerda e o cérebro só captava as palavras, noivo, sangue, ascensão e sacrifício.

Quando dei por mim já tava com o pescoço de um daqueles prototipos de Hulk juvenil entre meus dentes, quando assustado ele soltou meu braço não pensei duas vezes em golpear o gogó do segundo Hulkete, mal consegui dar dois passos umas daquelas piranhinhas pulou nas minhas costas, puxei ela pelos cabelos mesmo e atirei-a sobre um lado da roda, abrira-se um rota de fuga, mas antes que eu corresse uma pancada na nuca, tudo escuro.

Acordei sentindo um frio pelo corpo e uma dor terrivel na cabeça, droga estava amarrado numa mesa, no que parecia ser uma construçao, mas de onde vinha aquele frio. Percebi então que estava pelado, não acredito, além de ser morto por um bando de malucos num ritual mais maluco ainda, tinha que ser com o clássico clichê de estar amarrado e nú, putaquepariu só comigo mesmo. O lugar quase não tinha luz, mas dava pra perceber que tinham usado uma espécie de arame nos meus pulsos, fiquei forçando o braço contra o material até que começsse a sangrar e aproveitei o sangue como lubrificante para livrar minha mão e me soltar, enquanto isso escutava mantras e cantos vindo de vários locais.

Enquanto tateava na escuridão atrás de minhas roupas, tentava achar um jeito de sair dali, por sorte todas as peças estavam no mesmo canto do quarto e afastadas da porta, pois enquanto me vestia, Aktiba e seu séquito entraram para concluir a cerimônia, não me vendo no local a mulher ficara enlouquecida, de sua boca não saiam palavras e sim sibilos de um súcubo enfurecido, conseguira me esconder atrás de alguns sacos de areia e cimento, mas o espanto pelo meu sumiço já diminuia e me encontrariam rapidamente, podia tentar lutar de novo, porém seria subjugado novamente, consegui avistar uma janela, só que teria que passar pela demônia e nem fazia idéia de se estava em algum lugar alto.

Quando um dos Filhos de Necronion, era assim que se chamavam, começou a retirar os sacos que me escondiam, acreditei que era minha hora, foi quando uma música vindo de outro cômodo chamou-lhes a atenção e dessa vez eu tinha tido sorte, provavelmente quando me carregaram o meu celular tinha caído e alguém tentava me ligar, Aproveitando da distração deles, joguei um dos sacos de cimento em cima do fanático que quase me descovrira e corri em direção a janela, no caminho vi o brilho da lâmina de Aktiba passar rente a minha orelha, sem pensar saltei através da janela, graças a Deus a casa era térrea, sem me perguntar nada ou olhar pra trás atrvessei o terreno com uma horda a me perseguir, até agora não sei como saltei por cima do tapume que cercava a obra sem ao menos tocá-lo, só parei de correr 5 km depois quando numa movimentada avenida peguei um táxi que me trouxe pra casa.

Poucos segundo depois que entrei o telefone tocou, pelo Bina reconheci, era o meu celular, não atendi, estava apavorado, continuavam a ligar insistentemente, não aguentando atendi: - Seus felas da puta eu vou voltar e matar vocês! Desgraçados, vou dançar sobre a cova de todos!

- Alô, por favor, acalme-se senhor Diego. Aqui é o Sargento Pereira, nós encontramos seu telefone celular em uma casa em construção e também detivemos algumas pessoas que pelo visto devem ter lhe atacado.

- Como? Sargento Pereira, mas eu nem tive tempo de ligar para a polícia, como vocês souberam?

- Na verdade não sabiamos do que se tratava, viemos atender um chamado por causa da reclamaçao de uma vizinha sobre um tarado na região.

- Puxa, mas que sorte em pegar esses malucos, mas como o senhor sabe o meu nome?

- Bem, senhor Diego, é meio constrangedor, mas o tarado que procuramos provavelmente deve ser o senhor.

- Eu? Como assim?

- É que além do seu celular, encontramos sua carteira e junto com ela suas calças.

Foi só então que notei, estava apenas de camisa, tênis e cueca, e entendi porque o taxista não fizera questão de receber o pagamento e me olhava com uma cara assustada. Sinceramente eu prefiro ler e escrever histórias do que fazer parte delas.



(Texto originalmente publicado no Além do óbvio e ululante que pulula mentes humanas). 

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